Relação dos Bens Imateriais Tombados na Cidade de Santo André

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O primeiro bem cultural de natureza imaterial homologado pelo Prefeito, em 12.12.2008, e que recebeu o título de patrimônio cultural, foi a Casa de Culto Dâmbala Kuere-Rho Bessein.

Casa de Culto Dâmbala Kuere-Rho Bessein















Templo de culto afro-descendente da Nação Jeje-Mahin, do grupo étnico Ewe/Fon, que cultua voduns, divindades associadas à força espiritual ancestral. O culto é originário de uma região em torno da cidade de Savalou, na atual República do Benin, África. A quantidade de grupos étnicos nessa região da África levou à diversidade dos cultos religiosos, e entre aqueles trazidos ao Brasil por negros escravizados, destacam-se o culto aos iorubás, o culto aos inquices e o culto aos voduns.

O termo vodun é de origem ewe/fon. Seu panteão de divindades é amplo e complexo. Os voduns são organizados em famílias, que são chefiadas por um vodun principal. E cada Casa de Culto tem seu próprio vodun e sua família ali representada.

A hierarquia na Casa de Culto Jeje é rígida e são complexos os anos de iniciação que se organizam em torno de danças, preces, aprendizagem de línguas sagradas, votos de segredo e obediência. A dança, que ocorre durante o transe dos voduns, é cadenciada sob o ritmo dos tambores tocados, na maioria das vezes com uma vareta de madeira.

A Casa de Culto objeto deste Registro está associada à família de Dambirá, ligada às divindades da terra e que tem como vodun principal Akossi Sakpatá. Existem vários rituais nessa Casa de Culto, que além da ‘obrigação’ dos seus crentes, realiza também as festas a Dan, em 26 de agosto e a Sobô, em junho.

A Casa de Culto está instalada em Santo André há trinta e seis anos e é uma das três únicas casas desse culto existentes no Brasil (outras duas estão na Bahia), e a única no Estado de São Paulo. Sua edificação possui uma fachada peculiar, inspirada em construções africanas. Toda a edificação, tanto externa como internamente, é pintada em azul e branco. Essas cores, no universo mítico, têm significado: o azul representa a escuridão, o branco a claridade, e juntas, representam o dia e a noite.

À frente da casa há um jardim no qual são feitas algumas celebrações religiosas associadas aos ritos da Casa de Culto.

No interior da Casa de Culto há vários cômodos que representam, cada qual, as diversas atividades religiosas desenvolvidas. Assim, há o Quarto de Legba – vodun mensageiro; o Terreiro ou Barracão, onde acontecem as atividades religiosas e existem várias representações de voduns, tanto nas paredes como no chão; Quarto Sabaji Roncó, no qual estão depositados os “assentamentos” do santo do Chefe da Casa; Quarto de Sacramento, local em que ocorrem atividades religiosas de iniciantes; Quarto de Assentamentos (Rumpami), no qual é conservado o “segredo” da Casa; Quarto de Jogo de Búzios, no qual ocorre o jogo de Búzios; Quarto de Baron Samedi, onde é permitida apenas a entrada para crentes em processo de iniciação. Há ainda outros cômodos que auxiliam no desenvolvimento da Casa de Culto, mas não tem função religiosa, e não serão descritos aqui; todavia constam do processo de Tombamento e Registro de nº 1995/2007-5.

O bem cultural Casa de Culto Dâmbala Kuere-Rho Bessein, que tem como diretor e chefe espiritual Megitó Pai Dancy foi registrado levando-se em consideração os seguintes aspectos:

1. individualidade do bem cultural – uma das três casas de culto jeje-mahin existentes no Brasil, sendo que a única no estado de São Paulo;
2. manifestação cultural e religiosa existente na cidade há trinta e sete anos, com continuidade de ação durante todo esse período;
3. peculiaridade desse culto jeje-mahin frente a outros existentes no Brasil como culto aos iorubás e aos inquices, e mesmo frente àqueles existentes atualmente na África;
4. interesse do próprio diretor e chefe religioso na manutenção do culto jeje-mahin.